Brasil ainda não é capaz de identificar e conter novas variantes da covid-19, afirmam especialistas

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Após pesquisadores da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, detectarem uma nova variante da covid-19 no Rio Grande do Sul, analistas afirmam que, passado um ano e meio de pandemia, o Brasil ainda não é capaz de identificar e conter novas variantes da covid-19 da forma como deveria.

A avaliação é de que falta política nacional destinada a evitar novas variantes e que Estados e municípios tomam iniciativas pontuais para reduzir danos, porém limitados pelas competências determinadas por lei, já que o controle de fronteiras cabe à União.

Hoje, para entrar no Brasil via aeroporto, viajantes de outros países devem apresentar RT-PCR negativo realizado 72 horas antes da viagem, mas não há exigência para viagens de avião interestaduais – o que dá margem à circulação de casos e novas variantes de outras regiões.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) destaca por e-mail que a entrada por portos e estradas ao Brasil é proibida para viagens a lazer e permitida apenas para casos excepcionais, como transporte de carga – mas caminhoneiros brasileiros, a despeito de deverem apresentar RT-PCR na entrada a nações vizinhas, não precisam fornecer exame negativo no retorno ao Brasil.

A agência reguladora ainda diz que “identificação, rastreamento e controle epidemiológico de novas variantes é assunto de competência da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde”.

Contatado por GZH, o Ministério da Saúde informou, via assessoria de imprensa, que a pasta compila em boletim epidemiológico os sequenciamentos realizados pelos Laboratórios Centrais dos Estados. Há, ainda, análises de Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Evandro Chagas e Instituto Adolfo Lutz. Na prática, a detecção de novas variantes fica a cargo de Estados e municípios.

— A cepa P1 (variante Gama, originária de Manaus) foi detectada pelo governo do Japão. Nesse aspecto, o Brasil está falhando. A gente detecta se uma pessoa está positiva no aeroporto. Se traz uma variante mais transmissível, só saberemos muito depois. Poderíamos fazer o sequenciamento de testes positivos de passageiros que vieram de regiões onde novas variantes estejam em alta — afirma o microbiologista Afonso Barth, coordenador do laboratório de sequenciamento genético do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

O sequenciamento genético é uma técnica na qual cientistas analisam, em um laboratório especializado, a amostra de RT-PCR de uma pessoa com covid-19, “destrincham” o vírus e identificam se ele pertence a uma família já conhecida do Sars-CoV-2 ou se é uma mutação ainda não conhecida.

A análise é importante para averiguar o surgimento de novas cepas mais transmissíveis, letais e que reduzam a eficácia das vacinas existentes hoje. Além de identificar se uma piora da pandemia pode estar associada a uma nova variante, a ação ainda pode ajudar na fabricação de vacinas atualizadas e guiar políticas públicas para conter a circulação da nova versão.

Em países como Reino Unido e Portugal, a descoberta de cepas mais transmissíveis motivou governos a impor restrições à circulação. No Canadá, o diagnóstico da presença da variante Delta motivou o governo a reduzir o intervalo de doses da Pfizer.

Em ação lateral da União, a Rede Corona-Ômica, constituída por pesquisadores de 12 instituições das cinco regiões do Brasil, foca justamente no sequenciamento do genoma de amostras virais.

A iniciativa é financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e coordenada por um gaúcho, o virologista Fernando Spilki, professor da Feevale e responsável pelo estudo que identificou a nova variante no RS.

Spilki reconhece que o Brasil tem uma vigilância genômica falha e destaca São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais como Estados onde as ações são mais avançadas.

— Precisaríamos fazer mais sequências por semana e associar sequenciamentos à genotipagem, que é mais rápida do que sequenciamento, para entender quais variantes estão circulando. A intensificação do número de ensaios seria importante à medida em que avança a vacinação — afirma Spilki.

As secretarias de Saúde do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre destacam que, como o controle de fronteiras fica a cargo do governo federal, busca-se atuar dentro dos limites possíveis, sem a possibilidade de cobrar exames ou restringir a entrada de viajantes.

— Seria ótima a possibilidade de coletar exames de todas as pessoas que entram no Estado. Temos pontos críticos, como a faixa de fronteira. Mas essa área é federal, o Estado não pode proibir a entrada de uma pessoa — resume Cynthia Molina Bastos, diretora do Centro de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SES-RS).

Como o Estado não pode exigir o teste RT-PCR de caminhoneiros, a SES trabalha com a ideia de oferecer testes aos condutores que entrarem por via terrestre no Rio Grande do Sul. Mas há resistências:

— Todos os caminhoneiros que saem coletam PCR porque Argentina e Chile exigem. Mas, para entrar aqui, não precisam. O que estamos tentando é convencer a realizar o exame na entrada. Mas as transportadoras dizem que muitos caminhoneiros não querem parar, acham que é perder tempo. Estou tentando aplicar teste de antígeno e, se der positivo, coletar PCR. Mas há uma resistência — afirma.

A diretora do Centro de Vigilância em Saúde gaúcho acrescenta que o Estado ampliou a vigilância genômica por meio de um exame semelhante ao RT-PCR que identifica o tipo de variante da coleta sem realizar o sequenciamento completo, que é mais complexo.

Também destaca que o Laboratório Central (Lacen) armazena todas as amostras positivas em território gaúcho para analisar o genoma retroativamente, por amostragem, em caso de aumento súbito de casos.

Painel já identificou 25 variantes no RS

Até agora, o Rio Grande do Sul sequenciou 1.328 amostras, nas quais identificou 25 variantes do Sars-CoV-2 – nem todas preocupam cientistas. Os dados estão no painel criado pela SES para publicizar os dados de rastreamento genômico. Há grande registro da variante Gama, detectada primeiro em Manaus, e dois casos da variante Alfa, detectada primeiramente no Reino Unido. Não foi identificada circulação das variantes Delta (Índia) e Beta (África do Sul).

Uma alternativa, segundo o médico infectologista Ronaldo Hallal, consultor da Sociedade Sul-Riograndense de Infectologia (SRGI), seria realizar o sequenciamento genético de casos positivos de covid-19 em diferentes Estados e regiões, com recorte também por faixa etária. Ao focar em parcelas da população, seria possível entender se uma variante está mais presente em uma zona ou grupo populacional.

Em Porto Alegre, uma iniciativa em conjunto da prefeitura e do governo do Estado ofereceu testes rápidos a quem desembarcava no aeroporto Salgado Filho em junho. Em 14 dias, foram realizadas 6,2 mil aplicações, das quais 55 (menos de 1%) deram resultado positivo.

A ação foi encerrada e, agora, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) irá oferecer a partir deste mês, para viajantes que desembarcarem no aeroporto e permanecerem na capital gaúcha por no mínimo quatro dias, vouchers para realizar exame RT-PCR.

— A principal via de entrada é pelo aeroporto, principalmente de outros Estados e países. Mas vimos que no aeroporto só ia testar quem queria e não tinha pressa. A partir de agora, a pessoa poderá pegar o voucher, ir ao laboratório e realizar PCR. Se for positivo, os exames vão ter análise genômica no Lacen e na Feevale. Se houver grande volume, pensamos em parceria com a UFRGS — diz o diretor da Vigilância em Saúde da prefeitura de Porto Alegre, Fernando Ritter.

Ele cita que a Capital também está realizando gratuitamente testes rápidos na Trensurb, zona de circulação de pessoas da Região Metropolitana, e acrescenta que os hospitais de Porto Alegre estão orientados pela prefeitura a realizar a análise genômica do vírus de pacientes hospitalizados que tenham viajado ao Exterior.

Questionado sobre o que a prefeitura irá fazer caso identifique uma nova variante transmissível além de contabilizá-la, o diretor da Vigilância em Saúde diz que, caso haja piora da pandemia, a SMS pode pedir mudanças na política de enfrentamento ao coronavírus:

— Se houver aumento abrupto de casos motivado por nova variante, vamos fazer recomendação ao comitê da Região 10 para mudar algum tipo de protocolo. Temos reunião sistemática toda semana. Lembrando que Porto Alegre e a Região 10 foram as mais liberais dentro dos protocolos. Mas isso não se descarta.

O médico infectologista Ronaldo Hallal destaca que reduzir a transmissão viral é o primeiro passo para controlar o surgimento de novas variantes.

— Depois, ampla cobertura de testagem molecular com rastreamento de casos, o que não há. Tampouco existe política de vigilância molecular no Brasil. O que há são iniciativas para aproveitar a oportunidade em aeroportos usando testes de antígeno em vez de RT-PCR. Deveríamos pegar amostras obedecendo a critérios, e não fazer encaminhamento conforme a oportunidade do momento — diz.

O microbiologista Afonso Barth elogia as iniciativas do governo do Estado e da prefeitura da Capital, mas aponta que as ações ainda são insuficientes e que é necessária ação federal para evitar a circulação de novas variantes.

— O fato de poder fazer testagem com exames de antígeno no aeroporto e no terminal da Trensurb é importante, mas não é uma vigilância genômica, até porque para isso tem que ser PCR. A vigilância genômica depende de uma rede de laboratórios mais capacitados para fazer a análise. Mas temos poucos laboratórios para isso. O mais adequado seria uma política centralizada ou que o Ministério da Saúde providenciasse verba para diferentes laboratórios realizarem o sequenciamento de genoma. O Reino Unido destinou recursos para isso — afirma.

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Fonte: GZH

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