Escritora Lya Luft morre aos 83 anos

Foto: Diego Vara / Agencia RBS
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Considerada uma das mais importantes escritoras contemporâneas, a gaúcha Lya Luft morreu nesta quinta-feira (30), aos 83 anos, em casa, em Porto Alegre, durante o sono. Natural de Santa Cruz do Sul, a autora tinha sido diagnosticada com um melanoma — agressivo câncer de pele — havia sete meses.

Quando a doença foi descoberta, já estava em estado metastático, disseminada pelo organismo. A escritora passou por tratamento e chegou a ser internada algumas vezes no Hospital Moinhos de Vento, na Capital. De acordo com o oncologista Guilherme Geib, um dos médicos que a acompanharam desde junho, Lya foi submetida a imunoterapia (quando o sistema imunológico é fortalecido para combater o câncer), cirurgias e radioterapia. Recebeu a última alta no dia 21 de dezembro. Desejava morrer em seu apartamento.
Vizinha de porta da mãe, a filha Susana Luft, médica pediatra, recebeu a notícia do falecimento nesta quinta pela manhã.

— Uma pessoa iluminada, feliz, alegre, apaixonada pelos netos. Tudo o que pôde ensinar de amor e companheirismo ela ensinou. Era uma “galinha choca”, voltada para a família, muito calorosa e amorosa. Para nós, ela foi o ideal. Sempre foi muito amada. Para as letras, nem preciso dizer — emocionou-se Susana ao telefone.

Dona de uma obra premiada que conta com 31 títulos e colunista de GZH, Lya Luft transitou por vários gêneros: romance, poesia, conto, crônica, ensaio, infantil e memórias. Sempre com uma imaginação fértil, de quem “via” gnomos na infância — e, de certo modo, não os deixou no passado.

— Eu era uma criança de muita imaginação. Não tinha um amigo imaginário, mas uma família inteira, todos pequeninhos. Sentava no peitoril da janela no meu quarto e conversava com eles. Todos de verde, com gorrinhos. Provavelmente, tirei essa imagem de um livro. Mas, para mim, eram reais — contou em entrevista para GZH.

A sua criativa visão única do mundo lhe deu as munições necessárias para carregar os seus livros com personagens complexos, densos, melancólicos e divertidos. Daqueles que surgem apenas de mentes que não têm medo de viajar e, durante esses passeios pelo mundo da imaginação, colhem saborosos frutos que formam seres humanos únicos. Mesmo que eles estejam restritos às páginas de um livro.

Ela deixa o marido, o engenheiro e escritor Vicente de Britto Pereira, os filhos Susana e Eduardo, professor de Filosofia, além de sete netos e netas. Também foi mãe de André, engenheiro agrônomo, falecido em 2017. Lya será velada em uma cerimônia íntima, restrita a poucas pessoas, e, depois, cremada, ainda sem confirmação de data e horário.

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Os 83 anos de Lya Luft

Lya Fett nasceu em Santa Cruz do Sul em 15 de setembro de 1938. Filha de descendentes germânicos, aprendeu o alemão e, aos 11 anos, já decorava poemas de Goethe e Schiller. Depois de cursar o então Ensino Primário e não ir tão bem no chamado Científico, a futura autora passou um ano em Porto Alegre, em 1955, fazendo a Escola Normal no Colégio Americano.

Com saudade de casa, ela retornou para Santa Cruz para concluir a Escola Normal em um colégio católico. Só voltou à Capital para cursar faculdade, em 1959. E foi na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) que Lya concluiu o curso de Letras Anglo-germânicas em 1963.

Ela ainda fez dois mestrados, um em Linguística, também na PUCRS, em 1975, e outro em Literatura Brasileira, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1978. Entre 1969 e 1982, atuou como professora de Linguística na Faculdade Porto-Alegrense (Fapa), mas deixou de lecionar quando a carreira de escritora deslanchou.
Também foi na PUCRS, enquanto realizava a sua graduação, que Lya, ainda no primeiro semestre, conheceu Celso Pedro Luft, então chamado de Irmão Arnulfo, professor de Redação em Língua Portuguesa. O religioso, que era linguista e gramático, foi mentor da então aluna 17 anos mais nova.

Após se declararem um para o outro, enquanto a escritora cursava o seu último ano na instituição de ensino, ele abandonou a vida religiosa e pediu dispensa de seus votos. Eles se casaram em 1963. Juntos, tiveram três filhos: Susana, em 1965; André, em 1966; e Eduardo, em 1969.

André, que teve como padrinhos Erico Verissimo e sua esposa, Mafalda, amigos de Lya e Celso, morreu em 2017, aos 51 anos, enquanto surfava na Praia do Moçambique, em Florianópolis, Santa Catarina. O agrônomo sofreu uma parada cardiorrespiratória.

O casamento de Lya com Celso durou até 1985, com uma separação amigável. No mesmo ano, ela começou um relacionamento com o psicanalista e escritor Hélio Pellegrino, que viria a morrer de um ataque cardíaco em 1988.

Quatro anos mais tarde, Lya retomou seu casamento com Celso Pedro Luft. Menos de um ano depois, ele sofreu um AVC e morreria no fim de 1995. Lya, até o fim de sua vida, foi companheira do engenheiro de transportes carioca Vicente de Britto Pereira, seu terceiro marido.

Em 2019, aos 81 anos, Lya Luft teve de passar por uma angioplastia de urgência, após sofrer um infarto agudo do miocárdio.

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A escritora  Lya Luft

Andréa Graiz / Agencia RBS
Lya Luft recebeu diversos prêmios ao longo da carreira e foi patrona da Feira do Livro de Porto AlegreAndréa Graiz / Agencia RBS

Lya começou a trabalhar com o mundo literário no começo dos anos 1960, como tradutora de obras em alemão e inglês — foi responsável pela versão em português de mais de cem livros de autores internacionais como Virginia Woolf, Rainer Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris Lessing, Günter Grass, Botho Strauss e Thomas Mann.

Nesta mesma época, começou a escrever poemas e, em 1964, os reuniu no livro Canções de Limiar. Oito anos depois, seu segundo livro com poesias, Flauta Doce, chegava às livrarias. Em 1978, lançou sua primeira coletânea de contos Matéria do Cotidiano.

Mesmo já tendo três publicações, Lya só passou a se considerar escritora a partir de 1980, quando, com mais de 40 anos, escreveu o seu primeiro romance, As Parceiras, que teve repercussão nacional. Logo em seguida, vieram A Asa Esquerda do Anjo (1981), Reunião de Família (1982) e, com ritmo intenso de produção, O Quarto Fechado — lançado nos Estados Unidos sob o título The Island of the Dead — e Mulher no Palco, ambos de 1984.

Seguiu publicando obras que chamavam a atenção, como Exílio (1987), O Lado Fatal (1989) e A Sentinela (1994), até que, em 1996, aos 58 anos, decidiu dar um passo na direção de um gênero que ainda não havia explorado: o ensaio. Assim, lançou o livro O Rio do Meio, obra considerada a melhor de ficção daquele ano, recebendo o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Também em 1996, foi eleita patrona da Feira do Livro de Porto Alegre. Em 2001, recebeu o Prêmio União Latina de Melhor Tradução Técnica e Científica pela obra Lete: Arte e Crítica do Esquecimento, de Harald Weinrich.

Apesar de uma carreira premiada, Lya Luft se tornou célebre entre o grande público após o lançamento de Perdas & Ganhos, em 2003. Considerada um best-seller, a obra chegou a sua 40ª edição, com mais de 600 mil exemplares vendidos, de acordo com a editora Record. No livro, a escritora apresenta reflexões sobre temas do cotidiano, como relações familiares e amorosas, solidão, velhice e luto. Perdas & Ganhos ganhou edições em inglês, alemão, espanhol, francês e italiano, entre outros idiomas.

Em 2013, recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo livro O Tigre na Sombra (2012), eleita a melhor obra de ficção do ano na categoria romance. Nos anos seguintes, a autora ainda lançou O Tempo É um Rio que Corre (2013), Paisagem Brasileira (2015) e A Casa Inventada (2017).

Em 2020, chegou às livrarias As Coisas Humanas, lançado em homenagem ao filho André. Na obra, Lya se propôs a uma conversa “ao pé do ouvido” com o leitor, em que ela contempla o lado belo e o feio da existência, abordando infância e velhice, alegria e terrores, família, solidão e amor, trabalhos e luta, beleza, mistério e morte.

Em uma coluna recente em GZH, Lya também falou sobre a morte: “Não quero brincar de morrer, como em criança fazia, me deitava na cama, no assoalho, tentando ficar assim por um pouco de tempo que fosse: não conseguia muita coisa. Achava morrer muito ameaçador, e se nunca mais eu conseguir acordar desse sono maluco? Melhor pegar um dos meus amados livros, e entrar naquelas histórias”.

No último dia 16, ela conquistou seu último prêmio em vida: foi agraciada pela Academia Rio-grandense de Letras com o Troféu Escritora do Ano. Na ocasião, José Alberto Wenzel fez um discurso em homenagem a Lya, que enviou a seguinte mensagem para agradecer a distinção durante o evento: “De um leito do hospital é difícil acreditar em uma homenagem como essa”.

A Academia Rio-grandense de Letras, nesta quinta-feira, lamentou o falecimento de Lya e, em comunicado, destacou a entrega do prêmio: “Nossa homenagem chegou em tempo e alegrou seus últimos dias, servindo como singela lembrança de uma estupenda contribuição para a literatura brasileira, firmada ao longo de seis décadas da mais pura devoção à palavra escrita, nos mais diversos gêneros. Sua poesia e a agudeza com que soube capturar a essência humana jamais serão esquecidas”. Susana, filha de Lya, também ressaltou que a mãe ficou muito feliz com a homenagem.

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Fonte: Gaúcha ZH

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